Mecanismos tecnológicos, como a Inteligência Artificial, podem ser usados em etapas como a análise do desempenho do participante na prova do concurso
O uso de tecnologias tanto no ensino quanto na avaliação é a fonte de muitos estudos científicos. Diversos pesquisadores buscam compreender os efeitos positivos e negativos de softwares na educação, bem como os desafios para que essa aplicação seja feita eticamente. Considerando esse cenário, quando se trata dos concursos públicos, é possível encontrar processos que usam diversos mecanismos, desde as etapas das inscrições até a avaliação do desempenho do candidato.
Aliás, com as novas mudanças na Lei 14.965/24 sobre os concursos públicos, o tema sobre as ferramentas tecnológicas nessas seleções pode começar a ser ainda mais discutido. Uma das novas diretrizes é a possibilidade de um concurso ser realizado online. Conforme o Art. 8º, essa implementação só pode ser feita se houver a garantia de igualdade do acesso ao ambiente virtual.
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Conforme um estudo publicado na Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências e Educação, a Inteligência Artificial (IA) pode ser revolucionária por conta da sua capacidade em processar um grande volume de dados. Mas os pesquisadores destacaram que isso não significa que o método está livre de algumas discussões, como preocupações éticas.
Em relação aos concursos, Gabriel Pacheco, professor de cursos preparatórios para concursos especializados em Tecnologia da Informação e Informática, explica que a IA, por exemplo, é capaz de gerar as questões das provas e facilitar, até mesmo, as correções de algumas perguntas. O resultado é a agilização das seleções.
Ainda, ele pontua que qualquer tipo de tecnologia de IA é fundamentada em uma base de dados prévia. Por conta disso, “a tecnologia da informação usada, com apoio na IA, pode gerar algum tipo de conteúdo errado”, ele diz. “Isso pode acontecer com as bancas de concursos públicos que, em certos momentos, podem usar o mecanismo para criar as perguntas”, complementa.
Adriano Rosa Guimarães, CEO da plataforma Prova Fácil, comenta que como a maioria das avaliações ainda ocorre fora dos ambientes virtuais – ou seja, as aplicações dos exames acontecem presencialmente, nos locais indicados pelas realizadoras dos processos –, o ganho de eficiência por meio de alternativas tecnológicas ainda fica um pouco limitado.
Aliás, um estudo publicado no periódico Electronics destacou que o uso persistente de exames em papel conta com diversos fatores, como acessibilidade, familiaridade com o método, maior percepção de segurança, entre outros. No entanto, nos casos em que as avaliações são realizadas online, Adriano destaca que as tecnologias e a IA são muito mais aproveitadas.
De acordo com os pesquisadores do artigo no Electronics, a demanda por avaliações automatizadas surge como uma alternativa de aliviar a carga das equipes de instituições responsáveis por conduzir exames. Ainda, essa procura também ocorre como um meio de aumentar a objetividade nas provas e de agilizar a entrega dos resultados.
Com isso, uma das maneiras de avaliar o desempenho dos candidatos de um concurso público é por meio de um cartão de resposta digitalizado. Douglas Ribeiro dos Santos, analista de desenvolvimento de sistemas e diretor comercial na Impacta Soluções Web, usa como exemplo o sistema ProSeleta para falar que esse tipo de método pode realizar um mapeamento do modelo de prova escolhido pela organizadora, como uma avaliação com 80 questões.
“Assim, a ferramenta já consegue fazer uma correção de candidato por candidato, automaticamente, por código de barra. Também são reconhecidas as suas marcações, se foi assinalada a letra C em uma questão ou a B em outra”, ele explica.
Ainda, nesse mecanismo, Douglas também cita que a conferência é capaz de emitir um alerta aos organizadores nos casos em que um participante marcou duas alternativas ou deixou uma em branco. A partir disso, todo o resultado do exame consegue ser processado.
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“Anteriormente, os gabaritos das provas demoravam semanas para serem corrigidos e tinham, até mesmo, erros por conta da atuação humana. Mas hoje não há esse tipo de problema, porque quando o gabarito é passado para a banca examinadora, ela realiza um reconhecimento ótico e digitaliza o documento. Isso proporciona, de forma imediatista, a nota preliminar ou, até mesmo, a final”, adiciona Gabriel.
Para chegar na nota provisória, por exemplo, as ferramentas tecnológicas também passam por uma série de procedimentos. Douglas explica que nesse caso, há uma configuração sobre as regras eliminatórias, como a porcentagem mínima da pontuação total da prova para a classificação ou a norma de que o concurseiro não pode zerar em nenhuma das disciplinas da avaliação.
“Existem vários critérios de desempate, como a prioridade para pessoas com sessenta anos ou mais ou para quem alcançar a maior nota da disciplina de conhecimento específico”, acrescenta o analista de desenvolvimento.
Diferentes tipos de ferramentas tecnológicas contribuem com vários aspectos do dia a dia da sociedade – seja no trabalho, seja na vida pessoal. No entanto, alguns recursos digitais podem causar debates sobre a segurança.
No artigo publicado na Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências e Educação, os pesquisadores ressaltaram a importância da análise sobre a privacidade dos dados, ao usar a IA na esfera educacional, bem como o viés do algorítmico e a transparência nas decisões de sistemas fundados nessa tecnologia, por exemplo.
Em relação à segurança da aplicação das provas de concursos públicos – principalmente no caso de avaliações online –, Adriano fala que a partir da própria IA é possível “monitorar o comportamento do candidato, através de reconhecimento facial”. Esse serviço ajuda a evitar problemas de fraudes, como a falsificação de identidade.
“Também pode ser feita a fiscalização da realização do exame à distância, por meio de salas de aula virtuais. Isso permite uma grande economia de custo para as organizadoras dos concursos, evitando toda a logística de uma avaliação presencial”, acrescenta o CEO.
Gabriel ressalta que quando uma tecnologia cria questões, isso não significa o afastamento de um especialista da área trabalhando nesse projeto. “Muitos dos conhecimentos que a IA ainda gera podem vir com falhas”.
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Outro ponto é observar se o edital contém um tópico sobre a automatização dos procedimentos avaliativos – como a elaboração do cartão de resposta.
“As correções eficazes da IA, o cálculo da nota com variáveis, como a Teoria de Resposta ao ITEM, o cruzamento de dados comportamentais com as notas – além da capacidade de raciocínio por meio de respostas textuais de questões subjetivas – proporcionariam mais confiança e segurança nos resultados, pois inviabilizariam ainda mais os processos fraudulentos”, aponta Adriano sobre uma transição para o universo de provas online.
Além disso, vale citar que as organizadoras dos concursos públicos também usam tecnologias para a fase de inscrição, pedidos de isenção e a geração de boletos. Conforme Adriano, outro uso da Inteligência Artificial (IA) nos processos é a filtragem de candidatos e a avaliação perfis.