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Conflito de gerações: desafios entre novatos e veteranos no serviço público

A diversidade geracional é posta em cheque no ambiente de trabalho. Saiba como duas gerações se relacionam entre si dentro do serviço público

pratesvitoria77@gmail.com

6 de Junho de 2025 às 07:06

Saiba mais sobre a interação entre diferentes gerações no serviço público - Foto: Adobe Stock

Entre chegadas e partidas, 5 gerações interagem juntas no mercado de trabalho. Dos baby boomers a geração Z, os conflitos geracionais sempre existiram no mundo corporativo, seja público ou privado. Diferentes perfis, modos de aprender e comunicação entram em choque nesse ecossistema.

51,6% do mercado de trabalho afirma ter dificuldade para lidar com as diferentes gerações e suas expectativas no mundo corporativo, de acordo com a pesquisa “Tendências de Gestão de Pessoas”, do ecossistema Great People & GPTW.

Hoje, a geração Z é o maior desafio das organizações. 68% dizem que os jovens, nascidos entre 1997 e 2010, são mais difíceis de lidar na hora da gestão. Sua antecessora, os Millennials, também lidaram com o mesmo estranhamento no início da carreira anos atrás.

Com a nova onda de aposentadorias no serviço público, novos servidores entram na administração pública. Segundo o Censo de Concursos de 2023, a idade média dos concurseiros é mais nova: 25 a 39 anos. Nesse ritmo, é esperado que, em alguns anos, a imagem do funcionário público mude, sendo cada vez mais jovem. 

Ainda sim, a Lei nº 10.741/2003 estabelece que a idade é um critério de desempate em concursos públicos, dando prioridade ao candidato mais velho. A diretriz, estabelecida pelo Estatuto Do Idoso, é uma iniciativa de inclusão desses profissionais no mercado de trabalho.

Em um cenário tão diverso, os choques geracionais são comuns. Dentro da área de TI do Banco do Brasil, Elenilton Rodrigues e Giovanna Gomes representam duas gerações, um entrou na instituição financeira em 1987, outra em 2024. Conheça suas histórias.

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Entre veteranos: geração X na gerência

A geração X nasceu entre 1965 a 1980. Para Elenilton, na sua geração, os membros são resilientes, independentes e adaptáveis. Do Rio Grande do Sul a Brasília, o Banco do Brasil foi seu primeiro emprego. Ele ingressou na empresa em fevereiro de 1987, como Menor Auxiliar de Serviços Gerais, e está lá desde então.

Nos últimos 17 anos, tem se dedicado à gestão de equipes de desenvolvimento e manutenção de sistemas, com ênfase na preparação e evolução dos sistemas para as próximas gerações. Sempre na área de Informática, Elenilton formou-se como um profissional da tecnologia no Banco do Brasil. Hoje, Elenilton ocupa o cargo de Gerente de Soluções na Diretoria de Tecnologia, na sede do banco, em Brasília. Na gerência, Elenilton compartilha os desafios de liderar diversas gerações em um mesmo time.

Elenilton enxerga que, nas novas gerações, existe uma ansiedade de crescer rápido dentro das empresas. “Se olhar minha carreira, por exemplo, eu tive 5 cargos em 37 anos de Banco do Brasil, não é algo rápido. A velocidade de crescimento talvez não seja a que gostariam, por isso é importante conhecer a cultura da cultura”, defende ele.

Dentre os novatos dos últimos certames, de 2021 a 2023, eles estão na fase de conhecer a cultura. “Alguns vêm do mercado, outros é o primeiro emprego. Mas todos têm muita vontade de aprender e interessados no trabalho. É um desafio, mas eu tenho gostado”, comenta.

Entre as evoluções tecnológicas, as mudanças do mercado financeiro destacam-se no país. Tecnologias como PIX, antes impensáveis, hoje dominam o mercado. “Quando eu assumi os processos eram todos manuais. Hoje em dia, é tudo automatizado. Processos que, antes eram indispensáveis, hoje talvez não sejam mais necessários. Para evoluir, não podemos ficar amarrados ao passado, devemos olhar em frente”, afirma.

Para tudo dar certo, funciona pensar nas trocas geracionais, como diz Elenilton, como um casamento. “Os dois lados precisam ceder. Não adianta as gerações mais velhas falarem: ‘Eu sei como faz, sempre foi do meu jeito e vai continuar assim’. É preciso ter humildade e entender que tem uma geração nova chegando, com novas experiências e outros pontos de vista”, diz.

Ele continua: “E, do outro lado, os jovens não podem chegar já falando: ‘Eu vim para revolucionar’. Calma, você ainda não revoluciona, vai chegar o momento. Para isso, a comunicação é essencial”.

Giovanna acredita que os jovens entram no serviço público querendo ser marcantes. E, com apoio e acolhimento, suas ideias inovadoras só chegam para agregar.

Entre novatos: geração Z no serviço público

Para Giovanna, a geração Z pode ser definida como: conectada, diversa e inovadora. A goiana iniciou no TI por influência, mas, como conta, foi se apaixonando pela carreira. Com curso técnico em Informática pelo Instituto Federal de Goiás, Giovanna foi aprovada no último certame do Banco do Brasil, e tomou posse em junho de 2024, aos 21 anos.

Assim como Elenilton, o Banco do Brasil é o primeiro emprego de Giovanna. “Entrei com medo de não se encaixar, de que as pessoas não iam ter muita paciência por eu ser jovem. Mas percebi que isso era irreal. Todo mundo tinha vontade de ensinar, e eu de aprender”, conta.

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Ela continua: “Entrei com a expectativa de 'vou fazer tudo que eu puder para ficar aqui', agora passou para 'vou fazer tudo que eu puder para crescer e me desenvolver aqui dentro'”. Para ela, os concursos públicos vêm chamando atenção das gerações mais novas.

“Percebemos que, no serviço público, encontramos estabilidade e crescimento”, afirma. Ainda, Giovanna diz que a integração dos jovens no ambiente de trabalho é muito importante. “A gente entra muito conectado, trazemos novas perspectivas e ideias diferentes que podem mudar o serviço público”, explica. 

Os conflitos entre gerações existem, mas, a profissional acredita que isso se dá pelos tabus construídos pelos dois grupos: os mais velhas não têm paciência de ensinar e os mais novas não têm interesse em aprender. “Pode ser um pouco difícil lidar com pessoas mais velhas, porque são pensamentos muito diferentes, outras coisas vieram à tona com o passar das gerações. Por isso é importante trabalhar isso”, opina.

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Elenilton pensa igual. "Em todo mercado de trabalho, hoje, temos uma grande diversidade. E, especialmente sobre a diversidade de gerações, é muito rico. Por exemplo, quando você faz uma reunião, tem duas e até três gerações diferentes ali, interagindo e discutindo, cada uma coloca o seu ponto de vista", diz.

Na troca, cada um oferece seu ponto de vista, as divergências precisam ser reconhecidas como positivas. "Quando estamos produzindo algo, e conseguimos conciliar os diversos interesses, criamos um produto que atende melhor os clientes. Fazem produtos com melhor match com o público, ele olha o produto e pensa: “Esse aqui é a minha cara”, fala ele. 

Giovanna afirma: “Às vezes eu ensino, às vezes sou ensinada. Essa troca é muito boa, traz inspiração. Se eles estiverem dispostos a ensinar, eu me inspiro a aprender para que também possa inspirar os próximos”, fala. De perfil corajoso, a geração Z não tem medo de expor a própria opinião.

“Da troca com várias gerações, cada um com uma ideia e visão, surge algo muito bom. O jovem vem para agregar. Trazemos ideias que, às vezes, por gerações as pessoas nunca pensaram. Também somos clientes de tudo quanto é tipo de ramo, por isso conseguimos trazer várias melhorias”, comenta.

Do outro lado, também há desafios. A geração Z é a mais ansiosa da história, com 27% entre os trabalhadores do grupo. O relatório da GPTW aponta que, em 2023, a saúde mental foi apontada como o principal desafio para a gestão de pessoas no ano, indicada por 36,9% dos gestores. Para Giovanna, esse problema pode impedir a evolução no trabalho.

Para pessoas da sua idade que também desejam prestar concurso, Giovanna indica: vá e faça. “A gente não deve ter medo das grandes empresas. Não tenha medo de tentar entrar nesses espaços. Eu nunca me imaginei aqui, mas agora estou fazendo a diferença”.

Hoje, Giovanna trabalha na sigla DEB do BB como desenvolvedora com linguagem de alta plataforma (COBOL). No futuro, ela quer fazer a diferença, especialmente para mulheres, trazendo outras para a área de TI.

“Ambos os lados têm que ter coragem para enfrentar as diferenças geracionais e buscar o anseio de crescer e aprender.”, afirma. Entre parcerias e desafios, do encontro entre gerações, para os Elenilton e Giovanna, sai muito aprendizado. 

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