Por Jennifer de Carvalho
1 de Abril de 2025 às 09:36
No universo dos concursos públicos, muitos profissionais sonham em passar em uma seleção para um tribunal brasileiro. Conforme o relatório “Justiça em Números 2024”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o país possui cerca de 90 tribunais. Esse número é distribuído entre diferentes vertentes, como: Tribunais Superiores, Tribunais Regionais Federais, Tribunais de Justiça, Tribunais Regionais Eleitorais, Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunais de Justiça Militar.
Um levantamento feito para o relatório “Justiça em Números 2024”, do CNJ, mostra que dentre os 446.534 profissionais atuantes nesses órgãos, 275.581 servidores fazem parte dessa força de trabalho. Assim, muitos concursos para o ingresso em tribunais são lançados para os cargos de Técnico e Analista Judiciário.
No dia 7 de fevereiro, por exemplo, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) divulgou no Diário Oficial da União (DOU) o resultado final de seu concurso público para as funções de Analista Judiciário e Técnico Judiciário, em diferentes especialidades de nível superior. Conforme o edital de abertura da seleção, os salários ofertados pelo certame lançado em junho de 2024 variavam entre R$ 8.529,65 e R$ 16.035,69.
Quando essas ocupações são voltadas, principalmente, para a área Judiciária, as seleções exigem ensino superior em Direito. No entanto, é possível encontrar processos com vagas em várias especialidades, como Medicina, Contabilidade, Engenharia, Arquitetura, Psicologia, Arquivologia, entre outras.
Marcos Antonio Amorim, servidor público no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e criador da Mentoria Dominando Tribunais, também observa o crescimento de oportunidades no setor de Tecnologia da Informação e Informática, devido à “virtualização” do Judiciário.
Priscila Sertek, Analista Judiciária do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT2) e mentora especializada em concursos de Tribunais, destaca que os processos para esses órgãos costumam ter ofertas bem atrativas. “Como a rotatividade nesses órgãos é alta, sempre surgem novas oportunidades. Isso os torna excelentes para quem está começando a estudar para concursos públicos”, comenta.
Ela acrescenta que, geralmente, os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) lançam mais certames. “Entre 2025 e 2026, há uma forte expectativa de várias provas acontecendo, o que representa uma ótima oportunidade para quem quer ingressar no serviço público”, diz Priscila.
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Desde o ensino médio o sonho de Bruno Luiz Fernandes era ser funcionário público, por conta da estabilidade que o setor pode proporcionar. No entanto, a ideia de focar em processos voltados para tribunais só amadureceu durante a sua graduação.
Após conseguir organizar a sua rotina de estudos, Bruno conseguiu passar em uma seleção do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), ficando entre os dez primeiros colocados. Com a divulgação do resultado final e da homologação – ou seja, validação – do concurso, a ansiedade e a expectativa para ser chamado foram grandes.
“Um concurso que eu tinha prestado e que a minha classificação não foi muito boa me chamou antes. Como eu estava meio receoso do tribunal demorar para me chamar, acabei iniciando o processo de posse em outro órgão”, relata.
“Lembro-me que uma das fases era a avaliação psicológica e que ela iria ocorrer quando eu estivesse de viagem com a minha família, que já estava marcada há algum tempo. Mesmo explicando a situação, eles não me deixaram adiar a avaliação e, por conta disso, a minha família teria que sair bem mais cedo do que o previsto para que eu pudesse dar continuidade ao processo”, conta.
Mas no dia de seu aniversário, 10 de janeiro de 2023, ele recebeu a tão aguardada notícia de que tinha sido nomeado para o TJSP. Com isso, a programação da viagem não precisou mais ser alterada. “Foi um dia memorável. Lembro de tudo. Até do brinde e uma sobremesa que eu ganhei no restaurante onde fomos jantar para comemorar”, relata. Atualmente, Bruno é Escrevente Técnico Judiciário.
Os editais de concursos públicos para tribunais possuem detalhes sobre todos os requisitos para a participação no processo. Além de exigências como ser maior de 18 anos e estar com as obrigações militares e eleitorais em dia, Marcos destaca a necessidade dos interessados possuírem ensino superior.
“Atualmente, pelo menos nos tribunais federais, por lei, não há mais a possibilidade de ingressar nas instituições sem um diploma de nível superior. Mas a constitucionalidade dessa lei está sendo discutida no Supremo Tribunal Federal (STF) e devemos ter novidades em breve”, diz.
O tipo de curso de graduação depende do cargo ofertado. Nesse caso, é possível encontrar funções que exigem tanto uma formação em qualquer área acadêmica quanto em áreas específicas. Priscila elenca alguns requisitos nos campos Judiciários e Administrativos. Confira:
“Cargos específicos, como o de Médico do Trabalho, exigem formação correspondente à área, como um diploma de graduação em Medicina e, em alguns casos, especializações”, comenta.
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Assim que entrou na faculdade de Direito, Vanessa Rodrigues já tinha o objetivo de prestar concurso público. Ela chegou a estagiar no Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO), estado onde nasceu. “Lembro que eu achava o máximo quando via alguém com o crachá de Analista. Imaginava que um dia teria o meu”, relata.
Em 2016, Vanessa se mudou para o Rio de Janeiro e, então, começou a estudar para Analista do Tribunal Regional Federal (TRF), Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Desses, o que fazia o seu coração bater mais forte era o TRE. “Sempre que eu passava em frente a algum TRE, apontava o dedo e dizia ‘eu trabalho ali’. Às vezes, até tirava foto”, conta.
Em meio a sua jornada de estudos, Vanessa realizou duas provas para TRE em 2017: o do Paraná e o do Rio de Janeiro. Ela teve uma boa colocação no concurso do TRE-RJ na época, mas anos se passaram para ser convocada para a posse.
“Parei de estudar para concursos, comecei a advogar e já nem lembrava mais dessa prova. Saí de Rondônia e vim para o Rio de Janeiro em 2016 para casar, mas em 2023 acabei me divorciando. Foi uma ruptura inesperada, um momento bem difícil. Eu precisava recomeçar a vida e planejava fazer isso bem longe, no Canadá.”
Mas tudo mudou no dia 13 de novembro de 2023. Enquanto olhava seu e-mail, se deparou com um do TRE com o assunto “alteração da data da posse”. Ela conta que a sua primeira reação foi de incredulidade. “Pensei que tinham mandado para a Vanessa errada”, comenta.
Depois do susto inicial, ela conferiu a caixa de entrada e viu um e-mail que havia sido enviado poucos dias antes sobre a convocação. “O concurso expirou no dia 17 de novembro de 2023. A posse foi no dia 22 de novembro de 2023. Se a data da posse não tivesse sido alterada, eu teria perdido o concurso. Essa vaga realmente era para ser minha”, lembra. Atualmente, Vanessa é Analista na área Judiciária do TRE-RJ.
Mesmo com diversas opções de tribunais, em diferentes ramificações, é preciso considerar alguns pontos quando esses órgãos lançam concursos públicos. Um deles é analisar o conteúdo programático do edital de um determinado cargo e avaliar a sua afinidade com os temas.
Por exemplo, se um Tribunal Regional do Trabalho (TRT) abrir um processo, é importante que os interessados gostem de Direito do Trabalho, pois é algo que estará presente nas atividades do dia a dia.
Além disso, avalie os planos de carreira que a instituição oferece, considerando o salário inicial, os benefícios e as oportunidades de crescimento. “No geral, os tribunais federais oferecem remunerações e planos de saúde melhores, com a possibilidade de, eventualmente, transferir o servidor para qualquer região do Brasil com mais facilidade”, destaca Marcos.
Priscila acrescenta a necessidade de observar o número de vagas disponíveis e a rotatividade de nomeações em concursos anteriores. “Isso pode ser decisivo para uma escolha estratégica e assertiva”, orienta.
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Foi no segundo período da faculdade de Direito que a vontade de trabalhar em um tribunal despertou em José Ribeiro dos Santos Neto. Ele chegou a estagiar voluntariamente na Justiça Federal do Tocantins e teve muito contato com o seu curso de formação e com o serviço público. Com isso, também se manifestou nele a paixão pelo trabalho público e o desejo de retribuir a sociedade, por ter estudado na Universidade Estadual do Tocantins (Unitins).
“Perdi o meu pai no começo do ano de 2020. Vivi o luto durante a jornada. Também pedi exoneração do cargo no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Tocantins (CREA-TO), no final de 2021, para poder estudar entre 5h e 6h até a data dos concursos da Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) e Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) de 2022. Permaneci apenas no estágio de pós-graduação da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO)”, relata.
Atualmente, José é Analista Judiciário do TJDFT. Para ele, receber a notícia da aprovação foi um momento inesquecível. “Acordei às 5h da manhã e, ao ver meu nome, liguei para a minha mãe chorando. A ocasião me trouxe uma tranquilidade em saber que eu poderia proporcionar um conforto maior para a minha família, além de ter feito valer todas as abstenções e desafios enfrentados na jornada.”
Em Alagoas, Johnny Ramon Nascimento dos Santos atua como Técnico Judiciário do Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região (TRT19). Antes de se tornar servidor na instituição, ele era militar de carreira do Exército. “Eu estava buscando uma transição e fiz uma análise no mundo dos concursos. O tribunal não era um sonho, mas sempre tive uma admiração muito grande por essa área. Sempre achei muito bacana”, conta.
Ao analisar as oportunidades que tinham na ocasião, Johnny verificou que o setor trabalhista tinha previsão de lançar concursos em vários tribunais. Assim, ele focou os seus estudos nos processos da área e reparou que muitas disciplinas cobradas eram semelhantes. Alguns pontos mudavam, como os regimentos internos.
“Obviamente, meus primeiros resultados não foram bons e eu fui me adaptando. A partir do final do primeiro ano de estudo eu já estava tendo resultados bem significativos. Assim, nas últimas provas que fiz, principalmente essa do TRT19, eu já estava mais lapidado”, diz.
A notícia da nomeação chegou em um dia especial: o seu aniversário. Para ele, a chamada foi um de seus presentes mais marcantes. “No dia, acordei cedo, como sempre, fui no Diário Oficial e meu nome estava lá para o TRT19. Esse era um dos que eu mais queria, porque o tribunal é pequeno e tranquilo de trabalhar.”
Ao escolher o concurso público de um determinado tribunal para se inscrever, o candidato pode usar algumas estratégias para uma rotina de estudo mais eficaz. Um dos primeiros passos para essa organização é pesquisar os últimos editais da instituição. Conforme Marcos, servidor público no TJSP, essa análise auxilia na identificação das disciplinas que são mais recorrentes nos processos.
“Em seguida, é muito importante que cada um conheça o seu nível de conhecimento dos conteúdos. Se o candidato não sabe previamente o seu percentual de acertos nas matérias que irá estudar, ele não terá como medir se está progredindo ou regredindo”, acrescenta.
Para isso, ele orienta a realização de simulados que consistem na resolução de três a cinco provas que foram aplicadas nas seleções anteriores do tribunal desejado. A ideia é quantificar a média de acertos das disciplinas mais cobradas e, a partir desses dados, montar um cronograma de estudos.
“O candidato estratégico monta o seu ciclo de estudos com base nas matérias que tem maior percentual de acertos, atribuindo a elas uma carga horária menor do que a destinada para as que possui mais dificuldade”, diz o mentor.
Conforme um artigo publicado na Scientific Electronic Library Online (SciELO), um gerenciamento mais efetivo do tempo dedicado aos estudos depende de diversos fatores. Um deles é ajustar as atividades de acordo com a realidade de pessoa. Outro ponto é o estabelecimento de metas, definindo como elas serão alcançadas.
Analista Judiciária do TRT2, Priscila indica a priorização de um método chamado EQR (Estudo, Questões e Revisão) no momento de planejar a rotina de aprendizado. “Cada dia inclua um bloco de estudo teórico para aprender o conteúdo, seguido da resolução de questões para consolidar o aprendizado e, por fim, realizar revisões regulares, com o apoio de um ‘caderno de acertos’. Essa abordagem permite a fixação do conteúdo de forma mais ativa e ajuda a evitar esquecimentos.”
Conforme Priscila, o ‘caderno de acertos’ é uma técnica em que o candidato registra as questões que errou e acertou, com a análise dos motivos de cada escolha. A ideia é o material se tornar um guia personalizado, pois ajuda o concurseiro a focar nos tópicos que precisam de mais atenção. Assim, ela acrescenta as seguintes orientações para a montagem do cronograma de estudo:
Ainda, a mentora ressalta a importância do cronograma ser adaptável, para o candidato manter a consistência nos estudos mesmo diante de imprevistos.
Os pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) destacaram no artigo citado acima que o gerenciamento do tempo de estudo também engloba um monitoramento sobre os resultados atingidos, pois isso ajuda na identificação de determinadas barreiras que estejam atrapalhando o alcance dos objetivos. Desse modo, é possível implementar mudanças nas estratégias usadas ou na organização individual.
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Para conciliar os momentos de aprendizado para as avaliações do concurso que estava prestando com o restante da rotina, José dividia as horas de estudo. “Se eu fosse estudar 4 horas no dia, buscava fazer isso 2 horas no período da manhã e o resto à noite”, conta.
Além disso, para ajudar na sua organização, ele usava uma agenda virtual para compreender o tempo que possuía entre o direcionamento dos estudos e a data das provas. “Com isso em mente, eu lia o conteúdo programático do edital, identificando as normas e os conteúdos que eventualmente desconhecesse, assuntos que tinha dificuldade e pontos que achava necessário revisar”, diz. “Na época do TJDFT, foquei muito na resolução de questões, normas do próprio tribunal e na leitura da lei”, lembra.
Vanessa usou a estratégia de focar nos temas mais recorrentes na prova do concurso. “Eu também tinha diferentes formas de estudar cada matéria. Por exemplo, eu adorava raciocínio lógico e tinha certa facilidade. Então, nesse caso, resolver questões era o suficiente para mim. Em um tópico ou outro assistia a alguma aula, mas era raro. Outras matérias eu lia doutrina e lei e outras apenas a lei.”
Para ela, algo fundamental para a sua aprovação foi realizar simulados, resolver muitas questões e fazer revisões.
Na sua organização, Johnny aplicou um método de ciclo de estudos. “Eu não ficava limitado a um cronograma. Se não conseguisse estudar um dia ou outro, eu simplesmente jogava aquele estudo que estava previsto para o dia seguinte. Quando terminava esse ciclo, voltava desde o início e continuava seguindo, abarcando várias disciplinas”, relata.
Algo que também o ajudou no processo de aprendizado foi a produção de mapas mentais. “Eu fazia um mapa de um determinado assunto, enquanto estudava aquela disciplina. Assim, eu fazia a revisão por esse material”, diz. Depois, Johnny adaptou esse recurso com os temas mais recorrentes das questões das provas.
Já para Bruno, a sua rotina foi aprimorada quando começou a estudar antes do edital e pelo método de ciclos. “O meu estudo começou a ser mais regrado e, muitas vezes, diário. Algo que não acontecia antes”, conta. Ele também destaca como fazer revisões frequentemente também o ajudou.
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No dia 19 de março, o Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO) lançou o edital de um concurso público com provas objetivas e discursivas. Com isso, é importante que o candidato também verifique se o certame terá avaliações específicas, como redações, estudos de caso, elaboração de respostas para questões, entre outras. Confira mais detalhes sobre o concurso do TRE-TO nesta matéria.
Para provas discursivas e redações, Priscila cita um método que consiste na organização de dados, exemplos e citações relevantes para serem usados na construção de respostas.
O certame de cada tribunal possui as suas particularidades. Ou seja, alguns temas de provas podem ser diferentes de concurso para concurso, bem como o peso da pontuação dos conteúdos. As disciplinas também podem variar de acordo com o cargo escolhido.
No entanto, é possível encontrar tópicos semelhantes entre os processos para tribunais. Conforme Priscila e Marcos, alguns temas recorrentes são os seguintes:
“Em Direito Constitucional, o artigo 5º, sobre direitos e garantias fundamentais, e os artigos 37 a 41, que falam sobre a administração pública, também costumam ser muito cobrados. Em Direito Administrativo, a Lei de Improbidade Administrativa e a Lei de Licitações são recorrentes”, destaca Marcos. “Já nos concursos em que é cobrado o Direito Penal, os crimes contra a administração pública são mais frequentes de caírem nas provas”, diz.
O conteúdo de Informática também é citado por Marcos como um dos destaques nos exames. Já Priscila acrescenta o tópico de Raciocínio Lógico e Matemático.
“Para Analista Judiciário, na área judiciária, os editais costumam exigir Direito Constitucional, Processo Civil e disciplinas específicas, como Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho, no caso dos Tribunais Regionais do Trabalho. Já na área administrativa, os candidatos devem priorizar disciplinas como Administração Pública e Gestão de Pessoas”, aponta.
“É importante lembrar que o peso de cada disciplina pode variar de acordo com o cargo. Para Analista Judiciário, na área judiciária, por exemplo, o foco será maior nas disciplinas jurídicas, enquanto para Técnico Judiciário, há um equilíbrio entre conteúdos gerais e específicos”, finaliza.
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