Jennifer de Carvalho
14 de Novembro de 2024 às 07:20Salários altos, cargos exclusivos e maior probabilidade de convocação: esses são alguns dos aspectos dos concursos públicos que atraem bastante concorrência. Processos como o da Receita Federal, Polícia Federal, do Tribunal de Contas da União (TCU) e Banco do Brasil, por exemplo, costumam ter não só um grande número de inscritos, mas também de candidatos por vaga.
A quantidade de concorrentes também pode interferir na nota de corte das provas – pontuação mínima para o candidato ser selecionado. Além disso, as seleções mais procuradas podem ter várias etapas, como diferentes tipos de provas e cursos de formação.
Para se ter uma ideia, o último concurso público da Receita Federal contou com 699 vagas, distribuídas entre dois cargos. Para isso, os candidatados precisaram passar por três fases, além de um curso de caráter eliminatório. Finalizada em outubro de 2024, a seleção contou com 156.373 inscritos, em que a relação de candidato por vaga foi de 219,31 para Analista-Tributário e 232,68 para Auditor-Fiscal.
Em nota, o Banco do Brasil destacou que o seu último processo contou com quase 1,5 milhão de inscritos. Desse número, 1,3 milhão de pessoas se candidataram para as vagas de Escriturário – Agente Comercial, enquanto 130 mil se cadastraram para Escriturário – Agente de Tecnologia. Na ocasião, o edital da instituição ofereceu um total de 4 mil vagas.
Segundo Jeferson Rosa, mentor para concursos públicos e Auditor-Fiscal da Receita Federal, outros certames mais complexos são os de Auditor da Controladoria Geral da União (CGU), Oficial de Inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Diplomata e Consultor Legislativo e da Magistratura.
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“Já com a escolaridade de nível médio, há o concurso de Técnico do Seguro Social do INSS, de Agente Administrativo da Polícia Federal, além dos cargos de Técnico dos Tribunais Judiciários”, pontua.
A princípio, os interessados em seleções concorridas podem ficar um pouco apreensivos. Mas com o foco em apenas um concurso público, estratégias de estudos e cuidados com a saúde mental, é possível realizar as fases com mais segurança e se destacar.
Antes de se inspirar em métodos para se sobressair em meio à concorrência, vale compreender como uma quantidade significativa de participantes impacta um concurso público.
Conforme Eduardo Cambuy, professor do Gran Concursos, o primeiro efeito observado é na prova. Isso porque o seu nível de dificuldade também é estipulado de acordo com o grau de concorrência. “Há uma liberdade para adicionar questões mais complexas, exigindo mais do participante, porque a avaliação tem muito mais candidato do que vaga”, explica.
Ele exemplifica que quando esse nível é menor, a avaliação costuma ser mais acessível – mesmo com a exigência mínima garantida. “A Câmara dos Deputados, por exemplo, fez uma prova mais difícil para algumas áreas e não teve os aprovados necessários”, ele diz.
Eduardo também comenta que as movimentações em cursinhos e na mídia chamam a atenção para determinado concurso. Nesse caso, se o processo já for bastante procurado, essa tendência pode aumentar ainda mais.
Ainda, uma seleção com muita atratividade é capaz de afetar o planejamento de outros processos. “Como as bancas e os próprios órgãos sabem que um concurso terá muitos candidatos, muitas vezes eles seguram a publicação dos seus editais. Isso serve tanto para viabilizar o concurso quanto para a seleção de bons candidatos”, destaca o professor.
Por exemplo, muitas instituições aguardaram o andamento do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) para lançarem o cronograma de suas seleções. Vale citar que o chamado “Enem dos concursos” teve 2,1 milhões de inscritos e 1 milhão de pessoas no dia da prova. Leia mais sobre o processo nesta matéria.
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Essa é uma pergunta que muitos podem ter em mente, mas não há uma resposta tão simples. Isso também porque cada pessoa possui uma realidade. O que pode ser feito é analisar algumas estratégias e usá-las como inspiração para auxiliar o candidato a ter mais confiança ao iniciar as fases do concurso.
Segundo Jeferson, uma dica é “se preparar para todas as etapas, como prova objetiva, prova discursiva e curso de formação, pois só após vencer cada uma é que o candidato estará habilitado para tomar a posse no cargo público”.
Ainda, Eduardo complementa que vale focar em uma fase por vez, caso a pessoa não tenha nenhum impedimento para a realização de outras etapas. Por exemplo, se o concurso exigir um teste de aptidão física (TAF) ou uma avaliação prática, a ideia é pensar nesses processos após as convocações. Caso o inscrito passar, ele pode usar o período até a realização dos procedimentos para se preparar melhor.
Agente executivo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Leandro Lobo concorreu ao cargo em 2010. Na ocasião, o órgão revelou em uma publicação que o total de inscritos para todas as funções disponíveis era de 30.873. No caso de Agente Executivo no Rio de Janeiro, o processo teve 320 candidatos por vaga, na ampla concorrência.
“Na época do concurso da CVM, eu já trabalhava, mas tinha uma jornada de 6 horas por dia. Com essa carga, eu frequentava um cursinho preparatório e estudava em casa, revisando o material. Se tivesse disposição, estudava mais sobre algo que estivesse com dificuldade”, ele relata.
A manutenção de uma rotina de estudo é um dos pontos fundamentais para o concurseiro que deseja se tornar servidor público se destacar em meio à concorrência. Esse processo precisa ser constante e controlado, além da importância de analisar a própria evolução. Vale também estabelecer metas e tentar não só alcançá-las, mas também superá-las.
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Atualmente, Leandro está estudando para a Secretaria de Estado da Fazenda do Rio de Janeiro (SEFAZ). Por ser um concurso mais exigente, ele percebeu algumas diferenças em relação ao processo da CVM no qual se aplicou.
“O edital do concurso para a CVM em 2010, para Agente Executivo de nível médio, cobrou cinco matérias, sendo elas português, conhecimentos contemporâneos, estrutura do mercado de valores mobiliários, conhecimentos básicos de administração e administração pública. Já o concurso para a SEFAZ-RJ de 2010 exigiu 15 disciplinas, em que o nível de profundidade dos conteúdos é diferente”, comenta.
Para ajudar na sua preparação, Leandro participa de aulas de um curso online e usa uma plataforma que o ajuda na organização dos estudos. Mas se tem algo que ele também não deixa de lado é a sua saúde mental. Por ser formado em música, essa é a área onde ele se refugia para se distrair e renovar as energias.
“Para mim, a atividade física também é essencial. Já cometi o erro de abandoná-la por falta de tempo, mas foi o pior período. Entendi que ela me ajuda não só a manter a saúde física, mas, principalmente, a mental. Além disso, meus familiares me dão apoio nessa empreitada, e isso é fundamental para eu continuar.”
Estudar para um concurso público não é uma tarefa fácil, especialmente se ele for muito concorrido. O da Polícia Federal de 2021, por exemplo, tinha um total de 1.500 vagas.
Conforme o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) - organizador do processo –, 321.615 pessoas se inscreveram. O cargo de Agente teve uma demanda por vaga de 249.31. Ainda, conforme o edital, o concurso foi composto por oito etapas e um curso de formação profissional.
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Aos candidatos que pensam em se aplicar em processos semelhantes – ou que já se cadastraram –, lembre-se de ajustar os seus estudos conforme o seu dia a dia. Para Leandro, servidor na CVM, o que tem funcionado para ele é a criação de metas honestas e realistas.
“Também evite se comparar com outros estudantes e não abandone as atividades físicas. Ainda, tenha consciência de que esse processo pode ser longo e cansativo. Desta forma, ajuste as expectativas para não se frustrar tanto, tenha força de vontade e seja resiliente. Em geral, haverá altos e baixos até a aprovação”, ele orienta.
Conforme Jeferson, Auditor-Fiscal da Receita Federal, adicionar alguns pontos estratégicos podem proporcionar mais segurança ao concurseiro. Com isso, ele destaca os seguintes tópicos:
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“Escolha uma área ou, até mesmo, um concurso que você seja especialista. Além disso, dedique-se a apenas um processo para conseguir chegar realmente competitivo na data da prova. Nada de realizar diversas seleções públicas, uma atrás da outra, sem estudar direito e achar que pode dar certo”, finaliza Jeferson, sobre os processos com muita concorrência.
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