Vitória Prates
15 de Novembro de 2024 às 00:30Em 2023, o setor de tecnologia brasileiro arrecadou R$ 700 bilhões. Segundo a Brasscom, o valor representa 6,5% do PIB. A área, marcada pelo dinamismo e constante inovação, nos últimos três anos, cresceu 11,9%.
As projeções do setor de tecnologia são ainda mais otimistas. O Brasil figura como 10° maior em produção de TIC no mundo, representando 30% do mercado na América Latina, segundo estudo da ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software). Entre os empregados da área, o número passa de 2,05 milhões no país.
Dentro das oportunidades de trabalho, o serviço público oferta grande quantidade de vagas para os profissionais de TI. Nos últimos anos, o aumento da demanda por profissionais de tecnologia na esfera pública e a relevância das carreiras é assunto em pauta.
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Flávio Sampaio, diretor de Produtos e Soluções da Dataprev, entrou na companhia em 2006, em um período de aceleração do TI, em que, mesmo para órgãos governamentais, a transformação digital tornou-se inevitável. “O TI deixou de ser um suporte das empresas e passou a ser encarado como negócio próprio”, explica.
Da sede da Paraíba, Flávio começou como desenvolvedor e chegou a gerência. Na função de gerente, coordenou, em sua maioria, projetos ligados ao Ministério do Trabalho, como o aplicativo da Carteira de Trabalho Digital. “Grandes desafios, que trazem a tecnologia como objetivo do negócio e levam mudanças ao Brasil inteiro”, diz.
A Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev) é responsável pelas iniciativas de digitalização, automação de processos de serviços públicos e incremento de soluções digitais que impactam a vida dos brasileiros, como Gov.BR, CadÚnico e o Meu INSS.
Em setembro deste ano, a instituição anunciou novo concurso público. São 236 oportunidades abertas, para cargos de nível médio e superior, em 7 estados do país, com provas agendadas para o próximo domingo (17).
Flavio define sua carreira no Dataprev como: “Eu aprendi a me levantar com o Ministério do Trabalho, a caminhar com a Previdência e a correr com a Assistência”. Na liderança de projetos como o Auxílio Reconstrução, do Rio Grande do Sul, ele acredita que a principal diferença entre o serviço público e o privado seja o propósito.
“No privado, eu busco eficiência de processos para maximizar os lucros e ampliar a carteira de clientes, o que está correto. Mas, no serviço público, o objetivo é completamente diferente”, explica. “Não entregamos lucro, mas sim um serviço para a população. Não é sobre chegar em quem eu consigo chegar, mas sobre encontrar os meios que me fazem atingir a todos”, afirma.
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A melhor maneira de ter um serviço de alcance nacional, de acordo com Flávio, é através do uso de tecnologias avançadas. “O serviço público tem sua própria velocidade, por causa da burocracia. Contratar novos profissionais e embarcar uma nova tecnologia, por exemplo, tem ritos e tempos diferentes do mercado privado”, pontua.
Em um ramo de constante inovação, adaptar-se às novas tecnologias é um desafio para todas as empresas, sejam públicas ou privadas. No Brasil, o cenário é avançado. De acordo com pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), as empresas estão à frente em 1 a 4 anos no processo de transformação digital e uso da TI.
Para Flávio, é preciso quebrar o estigma de que o serviço público é defasado: “Hoje, ele não tem mais chance de ser ultrapassado. A sociedade até pode tolerar a velocidade do serviço, mas a falta de alcance é inaceitável. O serviço público precisa chegar a todos. E, quando chega, precisa ser eficiente. Para ter essas características, os métodos de trabalho defasados não funcionam mais”, afirma.
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, entre 2021 e 2022, os gastos com TI cresceram 11% ao ano nos bancos brasileiros. Além disso, dados da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária, estimam que, neste ano, o orçamento total dos bancos brasileiros, destinados à tecnologia, vai atingir a casa dos R$ 47,4 bilhões.
Fundado há 216 anos, o Banco do Brasil é uma das maiores instituições financeiras do país. Sânmya Noronha, bancária há 22 anos na empresa, conta sobre sua experiência na área de tecnologia. Formada em Administração de Empresas, com pós-graduação em Tecnologia da Informação (TI), Sânmya começou no banco no setor de atendimento ao cliente e hoje está no Centro de Excelência e Agilidade.
O setor é responsável por garantir que os times de desenvolvimento de tecnologia tenham melhor performance. “O trabalho na TI do banco é intenso, passo por todas as áreas, desde desenvolvimento de soluções, UX, produção e monitoramento”, comenta. Segundo a Febraban, nos últimos 8 anos, os bancos brasileiros dobraram seus investimentos em tecnologia.
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Para Sânmya, como o Banco do Brasil é uma empresa de economia mista, os desafios do trabalho de TI dentro da instituição financeira se assemelham ao do mercado privado. “Também trabalhamos com metas e com foco em resultados”, diz.
Antes de ingressar na instituição, Sânmya trabalhou por 3 anos no mercado privado, e percebeu diferenças no tipo de demanda recebida. “Na minha experiência, em outras empresas, as tarefas chegavam com menos explicações, o que deixava o trabalho menos estruturado”.
Assim como Flávio, Sânmya não acredita que o serviço público é defasado. “São profissionais em aprimoramento e qualificação constante que, quando comparados com outros do mercado privado, não deixam nada para trás”, afirma.
Alta empregabilidade é sinônimo de TI. Não faltam vagas na área, tanto no Brasil quanto no mundo. Estudo da Brasscom mostra que 53 mil pessoas se formam todos os anos em cursos da área, enquanto a demanda de mercado, no país, supera os 150 mil.
Profissionais da área, como Bruno Teixeira, gostam de caminhar entre a segurança e o desafio na hora de buscar oportunidades. Por isso, o mineiro divide o tempo de trabalho como servidor público na UFMG e desenvolvedor de software para uma empresa internacional. Além disso, detrás do computador, Bruno também passou para frente da câmera, e começou a produzir conteúdo nas redes sociais sobre a carreira de TI.
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Quando questionado sobre o dia a dia do trabalho no serviço público, Bruno definiu-o como “muito tranquilo”. Lotado no Instituto de Geociências, o técnico de TI é responsável tanto por infraestrutura quanto por dar suporte aos alunos e professores. Mas, para ele, existem problemas que afetam o trabalho.
“O servidor público é muito burocrático, tem pouco espaço para inserir coisas novas. São problemas de orçamento, política e demais fatores que dificultam o trabalho e o tornam, infelizmente, muito limitador”, diz o especialista.
Para o servidor, além do pouco espaço para inovação, há uma estrutura tecnológica limitada. "Os alunos perdem, por exemplo, com a falta de material - como computadores - e rede de internet de qualidade", afirma. Quando compara suas experiências profissionais no mercado público e privado, Bruno encontra lados positivos e negativos em ambos.
O próposito, a estabilidade e os cursos de aperfeiçoamento encantam no serviço público, enquanto o maior espaço e liberdade para inovar, além da rapidez em aceitação de mudanças, levam pontos para o mercado privado.
Ainda sim, segundo Bruno, cada modalidade, a seu modo, apresenta suas restrições. "O serviço público tem foco em melhorar a sociedade, mas existe uma limitação que impede a inovação. No privado, tem espaço para inovar, mas tem uma limitação que impede o crescimento da sociedade, já que visa o lucro, e dificilmente chega para todos", afirma.
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Do lado da educação, mas agora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), temos Paulo Ribeiro. O servidor ocupa o cargo de Analista de TI e Infraestrutura de Rede de Computadores na instituição de ensino.
Entre os desafios do trabalho, o servidor destaca conseguir se manter atualizado, enquanto concilia as atividades do dia a dia. "No serviço público, é preciso entender coisas que não tem nada a ver com nossa área. Temos uma carga de atividades burocráticas, como fiscalização de contratos, normatização de processos e compreensão da legislação que nos impede, às vezes, de ter tempo para inovar em relação às novas tecnologias do mercado", defende. Mesmo sendo da área de tecnologia, Paulo enxerga o dia a dia do TI menos como um serviço técnico, e mais documental.
Mas o serviço público, para Paulo, também tem suas vantagens. “A estabilidade é muito importante. Você não vai ser demitido por ‘não gostarem de você’, coisa que já vi acontecendo no mercado privado. A estabilidade é crucial, tanto para o servidor quanto para a sociedade. Se hoje o servidor consegue denunciar qualquer tipo de desvio dentro de uma instituição pública é por causa da segurança", explica.
A velocidade diferente do setor público também dão mais tempo para realizar as atividades, o que, de acordo com Paulo, melhora a qualidade do serviço: "Isso é algo que me agrada muito, eu tenho tempo hábil de executar uma tarefa. E, se o projeto dar errado, temos a liberdade de juntar a equipe novamente e pensar em soluções em conjunto", afirma.
Assim como Flávio, Paulo acredita na função social do serviço público: "O serviço público é sobre servir a sociedade, para quem mais precisa. Eu acredito nesse propósito, antes mesmo de fazer parte dele. Me motiva saber que o meu trabalho impacta tantas pessoas".
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Para Paulo, o serviço público, em algumas cadeias, pode ser considerado defasado, mas, segundo ele, não pelos mesmos motivos que o senso comum defende. “Quem passa no concurso público tem um conhecimento avançado, por isso ele foi aprovado em uma prova de tanta concorrência, mas chega para trabalhar e não encontra as ferramentas necessárias”.
“É sobre onde o governo investe o suficiente para manter a tecnologia atualizada. Por que não temos recursos suficientes na área de educação e saúde, mas para tributação de renda e financeiro tem? É menos sobre defasagem e mais sobre investimento. Menos sobre quem tá no poder e mais sobre pensamento sistêmico”, pontua.
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