Por Jennifer de Carvalho
26 de Junho de 2025 às 07:00
Com órgãos públicos em várias áreas de atuação no país, muitos brasileiros sonham e buscam alavancar as suas carreiras nessas instituições por meio de concursos. O processo de preparação para as avaliações de um certame é vivenciado de maneiras diferentes por cada concurseiro. A elaboração de uma rotina de estudo deve considerar a realidade de cada um, como a dos estudantes que precisam conciliar esse momento com os seus atuais trabalhos.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o 4º trimestre de 2024 fechou com 6,8 milhões de desempregados no país. Mas quando se trata da população ocupada, cerca de 103 milhões de brasileiros fazem parte desse grupo, de acordo com uma nota divulgada em fevereiro pelo IBGE.
De acordo com o instituto, são classificadas como “ocupadas” as pessoas que trabalharam, pelo menos, uma hora completa em trabalho remunerado, em uma determinada semana usada como referência para o levantamento.
Assim, aqueles que estão empregados e estudam para alcançar um determinado cargo público precisam adotar alguns hábitos que auxiliem na eficiência do aprendizado e, ao mesmo tempo, evitem sobrecargas e efeitos negativos à saúde mental.
Leia também se existe escala 6x1 para concursados nesta reportagem.
Nesses casos, planejamento, disciplina e equilíbrio são as palavras-chave na conciliação entre a rotina de estudo e o trabalho. Isso porque esse contexto pode ser acompanhado de vários desafios. Um deles é o cansaço após a jornada do emprego.
Para superar esse obstáculo, a professora Alê Lopes orienta o estabelecimento de metas diárias pequenas e realistas e o uso de ferramentas de organização. “Dividir o planejamento em etapas menores proporciona mais sensação de progresso e alivia a pressão”, diz.
Simião Cavalcante, professor e procurador do município do Rio de Janeiro, complementa que o tempo mais limitado para os estudos e a exigência de equilibrar a vida pessoal e preparação são outras barreiras. Para lidar com essas adversidades, ele destaca a importância do candidato otimizar os horários que possui uma maior disposição mental e focar na qualidade do aprendizado, ao invés da quantidade de horas.
“O uso de métodos ativos de aprendizagem e a manutenção de um planejamento flexível, que possa ser ajustado conforme a necessidade, são estratégias fundamentais”, aponta.
Em 2021, o Brasil possuía 11,35 milhões de funcionários públicos. É o que mostra um levantamento realizado pela República em Dados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc). No mesmo ano, esse número representava 12,20% do total de 91,18 milhões empregados.
Os servidores que já alcançaram os seus desejados cargos públicos precisaram incluir diferentes métodos de aprendizado para atingirem os seus objetivos. Para quem está passando ou irá passar por esse processo, um ponto a ser considerado é o gerenciamento de tempo dedicado aos estudos.
Conforme um artigo publicado na Scientific Electronic Library Online (SciELO), um dos fatores que podem otimizar esse período é justamente avaliar o tempo disponível para o estudante organizar as suas próprias atividades, de uma maneira que elas se ajustem à sua realidade.
Para os candidatos que trabalham, Simião fala sobre como aproveitar cada momento disponível. “Use o trajeto para o emprego para assistir videoaulas, resolver questões ou ler materiais em PDF”. Além disso, vale apostar em pequenos blocos diários de estudo. De acordo com Alê, quando bem organizado, este método pode ser mais eficaz do que dedicar longos períodos a uma disciplina. Desse modo, é possível usar esses recursos na ida ou na volta do trabalho, por exemplo.
Criar resumos bem elaborados e estabelecer metas diárias realistas são essenciais nesses casos. “Os finais de semana podem ser aproveitados para aprofundar temas mais complexos, lembrando de sempre reservar um período para descanso”, diz Simião.
Os candidatos que trabalham e precisam estudar para as avaliações de um concurso podem potencializar o seu tempo de aprendizagem com a adoção de algumas estratégias específicas. Para isso, Simião fornece as seguintes dicas:
Ainda, a professora Alê acrescenta outras técnicas para serem adaptadas à rotina de quem precisa cumprir com as suas tarefas em um atual emprego. Confira abaixo:
“Estudar para um concurso é como um projeto. Tem começo, meio e fim. Assim, a principal escolha é priorizar o concurso e estabelecer o tempo de construção do projeto que, no geral, é até a prova”, destaca Alê. “Além disso, defina recursos de tempo e de investimento. Não precisa abrir mão de nada, apenas criar o equilíbrio sobre o que é necessário para concluir o seu projeto”, acrescenta.
Leia também sobre como montar um cronograma de estudos tradicional nesta reportagem.
Quando se trata das principais escolhas que o concurseiro com vínculo empregatício pode fazer nesse momento, um dos pontos ressaltados por Simião é a redução do uso das redes sociais e do consumo de streamings, por exemplo. Para ele, a ideia é focar em simplificar o dia a dia.
“É necessário manter um equilíbrio saudável, priorizando aspectos fundamentais, como sono adequado e alimentação balanceada”, comenta o professor.
Ao escolher um concurso público para se inscrever, é importante que os candidatos que trabalham evitem alguns erros que podem comprometer o seu planejamento de estudo. Um deles é não conhecer o edital e adentrar nesse processo com metas irrealizáveis.
“Outro erro comum é focar apenas nas disciplinas que gostam, deixando de lado aquelas de maior peso ou que têm mais dificuldade”, aponta Alê. Ainda, ela lembra que a falta do treino de escrita e de estudos temáticos para provas discursivas pode ser mais um problema.
Para quem precisa cumprir uma determinada jornada no emprego, pode ser tentador querer abarcar vários conteúdos de uma vez nas horas reservadas ao aprendizado para um certame. No entanto, isso pode ser prejudicial. “É importante manter um ritmo constante, evitando a armadilha de alternar entre períodos de estudo intenso e o completo abandono”, diz Simião.
Os candidatos têm de realizar as funções no trabalho, estudar para as provas de um concurso público e, por vezes, cuidar da casa e preparar refeições. Uma rotina com todas essas tarefas pode ser a porta para um problema grave: a sobrecarga. O excesso de afazeres é capaz de afetar a saúde mental, aumentando, por exemplo, os níveis de estresse.
Leia também sobre como lidar com a ansiedade em concurso público nesta reportagem.
No período em que o concurseiro empregado precisa conciliar essa responsabilidade com os métodos de aprendizado, a professora Alê fala sobre a necessidade de compartilhar tarefas do dia a dia, quando possível, além da importância de criar uma rede de apoio.
“Faça isso dialogando com os seus familiares e pessoas próximas. Peça ajuda com todos os afazeres que podem ser delegados, como limpar a casa, levar os filhos à escola, fazer as refeições, lavar a roupa, entre outros”, comenta.
“Além disso, seja honesto consigo mesmo sobre os seus limites. Estabeleça prioridades claras e aceite que não é possível fazer tudo de uma vez”, adiciona.
Simião também fala sobre como uma agenda bem estruturada é fundamental, priorizando as disciplinas mais relevantes. Conforme o professor e procurador, esses passos permitem um melhor aproveitamento do tempo, sem excessos.
“Essa abordagem aumenta a eficiência da preparação, pois permite uma melhor assimilação do conteúdo e reduz o desgaste mental", diz. “Manter um ritmo sustentável de estudos ajuda a preservar a motivação e resulta em um aprendizado mais efetivo e duradouro.”
Muitos candidatos que trabalham podem acabar caindo em outra armadilha: negligenciar o descanso. Conforme um artigo publicado no periódico Global Qualitative Nursing Research, o descanso é um fenômeno relacionado à saúde, em que a essência desse conceito se baseia na harmonia entre a motivação, o sentimento e a ação.
Com isso, o descanso é algo que deve fazer parte do planejamento de estudo, pois além de proporcionar uma recuperação ao corpo, esse ato ajuda na consolidação do que foi estudado.
Leia também sobre como usar a DeepSeek nos estudos para um concurso público nesta reportagem.
“Mesmo que não tenha uma organização, aprenda a escutar o corpo, pois ele dá sinais. Dificuldade de concentração, cansaço extremo ou irritação são alertas para parar”, destaca Alê. Além disso, Simião descreve outros indícios do momento em que é necessário dar uma pausa, como erros repetitivos ou a sensação que o conteúdo não está sendo absorvido.
No caso de um cronograma com horários bem elaborados, lembre-se de respeitar esses períodos. “Não ceda à tentação de prolongar excessivamente o tempo de estudos quando a produtividade já está comprometida”, orienta Simião.
“Durante o sono e os momentos de pausa, o cérebro processa e organiza as informações, além de se recuperar para absorver novos conteúdos. Um descanso de qualidade também reduz erros, aumenta a capacidade de foco e mantém a motivação elevada”, acrescenta.
Para relaxar, Alê orienta que o candidato faça 30 minutos de pausa com algo prazeroso, como ouvir uma música, dar uma caminhada, brincar com o filho ou com o pet. A ideia é realmente recarregar as energias.
Simião ressalta a reserva de momentos fixos na semana voltada apenas ao lazer, como dedicar um dia ou um turno do fim de semana para a prática de atividades revigorantes. Alimentação balanceada, exercícios físicos e sono adequado também são imprescindíveis nessa jornada. Para ter uma boa noite, ele cita que o candidato deve dormir de 6 a 8 horas.
Leia também sobre como funciona a aposentadoria para concursados nesta reportagem.
Alê pontua que descansar não é um luxo, mas sim uma parte essencial da estratégia para quem trabalha e estuda para um concurso público. “O descanso ativo, por exemplo, é fundamental e ajuda muito nas provas discursivas. Veja filmes e documentários. Ainda, faça passeios que enriqueçam o seu repertório sociocultural”, finaliza.
Encontrou algum erro?
Entre em contato